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RESENHA - MEU AMIGO TOTORO

Foto do escritor: suzancamillosuzancamillo


IMAGEM: Acervo pessoal


TONARI NO TOTORO I MY NEIGHBOR TOTORO


PRODUTO: Animação japonesa produzida pelo "Studio Ghibli".
ANO: 1988 I DURAÇÃO: 86min
DIRETOR: Hayao Miyazaki I PRODUÇÃO: Toru Hara I ROTEIRO: Hayao Miyazaki
MÚSICA: Joe Hisaishi I DIREÇÃO DE ARTE: Kazuo Oga I EDIÇÃO: Takeshi Seyama

O Estúdio Ghibli é conhecido pelas produções "muito características" de animação japonesa. E desde 1985, quando foi fundado, já se mostrou como forte candidato competitivo no meio da produção de animações. A combinação inicial entre os fundadores do Studio Ghibli Hayao Miyazaki, Isao Takahata, Toshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma foi perfeita para alavancar o sucesso. Mesmo com as turbulências e com as inovações tecnológicas o Estúdio vem mantendo a adoração entre seus fãs. Em, 2001 foi fundado o Museu Ghibli, fruto de um desejo que se iniciou no final da década de 1990.


O famosos co-fundador do Studio Ghibli, cineasta, diretor, roteirista, animador e desenhista Hayao Miyazaki, diretor e roteirista da animação "Meu Amigo Totoro", costuma abordar em seus trabalhos temas como: fantasia, natureza, animais (reais e fictícios), cultura japonesa, dramas cotidianos e sociais.


O filme Meu Amigo Totoro se passa numa zona rural, tendo como núcleo a família Kusakabe. A família é composta pelo pai Tatsuo Kusakabe que trabalha no departamento de arqueologia de uma universidade. Ele alterna entre o trabalho e a criação das filhas, em um momento inesperado em que sua esposa encontra-se doente em tratamento em um hospital. A esposa Yasuko Kusakabe, como informado, está debilitada e longe da família em um hospital. Suas filhas são Satsuki Kasakube, a filha primogênita e Mei Kasakubi a caçula. Dentre outros personagens contundentes estão a comunidade de onde residem e os vizinhos. Principalmente a conhecida Vovó que ajuda Tatsuo com as meninas enquanto ele trabalha e seu neto Kanta que vai criando amizade com as meninas, principalmente Satsuki.


O filme se inicia com a mudança da família Kasakubi para uma nova residência, relatada pelo pai como um novo ambiente mais aconchegante e saudável para sua esposa quando sair do hospital. O local escolhido é o ambiente rural, com uma comunidade repleta de pessoas que sobrevivem com o trabalho de plantio, criação de animais e pesca. A casa é antiga e simples e seu entorno é natural com muito verde, flores, lagos e animais.


A mudança traz a questão do "novo" para as meninas e, com ela o receio por estarem lidando com momentos delicados: a doença da mãe, a ausência dos pais, os novos amigos e a mudança de casa e ambiente. O primeiro momento é de felicidade, súbito ao momento de curiosidade em conhecer a casa nova se deparam com os Makkuro kurosuke, personagem fictício criado por Hayo Miyazaki para fazer alusão ao momento de medo das meninas. O conjunto de Makkuro Kurosuke são como uma espécie de "bichinhos" pretos, redondos, com olhos grandes, textura parecida com o de um maxixe e que se dissolvem como poeira. Subitamente eles vão embora quando as meninas enfrentam o medo inicial com a nova casa, simbolicamente representado pelo riso.


Depois de se acostumarem com a casa, outros acontecimentos são problematizados logo em seguida. Para o pai o trabalho longe de casa, a disponibilidade com as meninas e a preocupação com a esposa doente e, ao mesmo tempo, em como suas filhas estão lidando com a situação. Mostrando-se várias vezes preocupado em manter a esperança, confortando as meninas com palavras e momentos simples e criativos de alento. Mas, o melhor exemplo de educação de Tatsuo com as meninas é como ele lida com a imaginação. Em nenhum momento ele critica as filhas, muito pelo contrário ele mostra que também foi criança e brinca junto com a fantasia delas, não deixando elas sozinhas e percebendo o momento delicado em que estavam vivendo.


As meninas, cada uma a sua forma e em conjunto lidam com a nova situação. Satsuki com a nova escola, amizades, os meninos, mas principalmente com o abrupto amadurecimento, devido a situação da ausência da mãe, um pai que trabalha e uma vizinha idosa. A animação mostra com delicadeza essa passagem de criança, ainda muito presente, para a adolescência, sendo realizada em meio a situações inesperadas. Mei, a caçula, mostra momentos de vivência de uma criança normal e de inocência. Demonstra mais a falta que os pais representam, sente dificuldades em estabelecer confiança com a Vovó e a nova recolocação da irmã, mais madura e com responsabilidades maiores, principalmente com ela.


O acontecimento maior do filme gira em torno da construção do imaginário das meninas para lidar com a situação. Essa imaginação é representada pelos seres da natureza, figuras muito representativas da cultura japonesa. Assim, elas conhecem os Totoros. A primeira a conhecer é a Mei que brincando no jardim avista o Totoro menor e de cor branca, meio transparente no primeiro momento, representando a construção da aceitação do imaginário e a possibilidade visualizá-los em sua realidade. O segundo é o azul, já sem a transparência. Os totoros estavam na procura e colheita de sementes, mostrado desde o início quando conhecem a casa nova. Indo de encontro com a sua curiosidade resolve segui-los e, assim, entrando em um caminho secreto em meio a seu jardim descobre a floresta dos Totoros. Encantada, conhece o grande Totoro cinza.


Com a ida ao centro da floresta onde vivem os Totoros, Mei some do espaço do jardim da casa. Quando Satsuki chega do colégio e percebe a ausência da irmã, avisa o pai que estava concentrado em seu trabalho em casa, já que a vida de professor não se limita ao espaço da academia. Ambos saem a sua procura e Satsuki avista o chapéu da Mei caído no chão, próximo a um buraco, uma espécie de túnel. Adentrando nesse túnel encontram Mei deitada no chão desacordada, ao acordá-la diz ter visto Totoro, vendo o descrédito de sua narração, o pai informa que ela provavelmente viu um espírito da floresta. Nesse momento, ao comentar sobre os espíritos da natureza, o filme toca no assunto da relação natureza e seres humanos. Ao mostrar uma árvore antiga, Tatsuo diz que "a árvore é tão antiga quanto as árvores e os humanos eram amigos". Uma pequena incitação para refletir a atual relação atual dos humanos com a natureza. No mais, é bom lembrar que os Totoros não podem ser vistos por qualquer pessoa, principalmente adultos, assim como os Makkuro Kurosoke. Demonstrando que isso faz parte de uma inocência típica da vivência de algumas crianças e seu mundo imaginário, da qual alguns adultos também já passaram. Além do mais, apontam a sua visualização como sendo consequência de momentos particulares.


O amadurecimento, um pouco instável pela sua idade, vai sendo demonstrado por Satsuki. Sua irmã é o principal alvo já que o pai trabalha, a mãe está doente, a Vovó (a vizinha prestativa) é idosa e uma desconhecida. Satsuki enxerga que nesse momento ela é a pessoa mais próxima da Mei para aconselhá-la, mas como Mei ainda a enxerga como uma irmã maior, porém ainda criança, não aceita a sua nova postura e acaba ficando chateada com certas situações. Porém, é momentâneo, típico do momento, já que Mei tem na irmã verdadeira amizade, consideração e confiança, demonstrada em momentos do filme.


A ausência dos pais é perceptível, principalmente a doença da mãe e incerteza de sua cura. Assim, as duas meninas acabam encontrando conforto uma na outra, sutilmente mostrado em segundo plano o medo da solidão e da morte. Mei quando fica em casa sozinha faz uma pirraça para a Vovó para poder ficar com a irmã na escola, pessoa familiar mais próxima que ela poderia estar e se sentir melhor. A saída da escola é surpreendida por um temporal e elas estão sem guarda-chuva. No caminho se protegem em um ponto espiritual, da qual pede permissão para estar ali. Kanta demonstra sua amizade ao emprestar seu guarda-chuva para as meninas ao avistá-las no caminho. Satsuki, logo que sai da escola com a irmã fica preocupada com a demora do pai em chegar do trabalho, principalmente por ser em um dia chuvoso e, como usa a desculpa do pai não ter levado o guarda-chuva para poder esperar ele no ponto de ônibus, passando primeiro na casa de Kanta para devolver seu guarda-chuva e agradecê-lo (momento cômico da família ao se surpreender com a gentileza do menino). Ao meu ver, a cena do ponto de ônibus é o mais incômodo do filme, duas crianças sozinhas, em um ponto de ônibus, chovendo e de noite. É em meio a essa situação de pouca fala e muito simbolismo (as gotas da chuva, o sapo, as luzes etc) que o medo envolve Satsuki e ela avista, pela primeira vez, o Totoro. Tudo é muito lúdico, principalmente a alegria do Totoro com as gotas de chuva caindo no guarda-chuva emprestado por Satsuki. Na ausência do pai e no contexto onde estavam, o Totoro é o alento e a companhia para que a situação passe mais rápida. Quantas vezes, mesmo adultos, criamos realidades paralelas para enfrentar situações difíceis?


Por fim, o inusitado meio de transporte (ônibus + gato) da Floresta Tsukamori do Totoro chega (entrelinhas, escrito como se tivesse vindo da enfermaria) e agradecido deixa com Satsuki um pequeno embrulho. Em seguida, o ônibus do pai chega. Nesse embrulho: sementinhas que, prontamente são plantadas pelas meninas. As sementes demoram a germinar e as meninas ficam ansiosas. Mas, em uma noite, elas avistam os Totoros fazendo uma espécie de ritual envolta da pequena plantação, as meninas ajudam e as sementes crescem magicamente em grandes árvores. Uma grande festa, um momento de relaxamento no topo das árvores com os Totoros. No dia seguinte, as meninas acordam felizes porque as sementes germinaram e demonstraram suas primeiras folhinhas. Como se fosse em um sonho com os Totoros e as energias positivas da natureza ajudaram para que as sementes germinassem. A pequena horta parece ser a ocupação mais feliz para as meninas que estavam passando por momentos difíceis, uma maneira bem simples de ocupá-las em casa e se enturmar com as pessoas, além de se envolverem mais com a natureza.


No verão, quando estão colhendo os frutos de sua pequena horta e Mei guarda com carinho a sua colheita para a mãe que está para visitá-las, Satsuki recebe um telegrama do hospital. Vendo a aflição da menina, a Vovó solicita que ela vá até a casa de sua família para poder ligar imediatamente para o pai que está no trabalho. O pai diz para não se preocupar que ele irá falar com o hospital para saber o que houve. No entanto, Satsuki fica muito preocupada e o medo da morte a envolve, não conseguindo conter o desespero e chorar. Mei vê tudo, compreende a tristeza da irmã e resolve fugir em direção ao hospital onde se encontra sua mãe. Quando o sumiço de Mei é percebido todos ficam comovidos e toda a comunidade se une para ajudar Satsuki a encontrar sua irmãzinha. O medo da morte e da solidão perpassa de novo o filme com o sumiço de Mei e um suposto sapatinho encontrado no lago. No momento mais desesperador, Satsuki pede ajuda para Totoro. Totoro compreende a situação e chama o gato ônibus que a leva até a Mei, logo em seguida leva as duas ao hospital. Lá veem de longe o pai conversando com a mãe. Tudo muito lúdico, mais uma vez. O filme termina por assim, sem muitas explicações do ocorrido, mas não se deve deixar de ver os créditos, já que ele mostram o que aconteceu depois e a felicidade reinando de volta na família.


Como visto, a animação do final da década de 1980 no Japão, apesar de apresentar forte características históricas e culturais de seu país que às vezes, por falta de conhecimento não percebemos, não deixa de mostrar algo que pode passar em muita famílias: solidão; medo da morte; ausência dos pais; pais que tentam criar uma situação melhor para os filhos; pais sendo afetados (são humanos) mas, tentando não demonstrar; como lidar com situações novas; envolvimento com outras pessoas; ajuda comunitária; crescimento e maturidade; amigos imaginários na infância e relação com a natureza. Um bom filme, talvez complexo para o conhecimento infantil, nada que eles não possam assistir a seu modo. Uma dica: seria interessante observar a compreensão da criança em várias situações de seu crescimento, assistindo várias vezes em idades diferentes. Quem sabe uma boa conversa construtiva no futuro?


Por Suzana C. Marques

02/10/2021


Mais informações sobre o Estúdio: <https://www.ghibli.jp/>

Mais informações sobre o Museu Ghibli: <https://www.ghibli-museum.jp/en/>





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